terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O início

O maldito despertador tocou e o sol do verão entrava sem piedade pela janela. Espreguicei-me da forma mais preguiçosa que podia e levantei de um pulo só. Terminei a acrobacia matinal arrastando-me como um zumbi até o banheiro.

Pelo barulho na cozinha, meu irmão já estava fazendo o café da manhã. Touché. Hoje, ele estava em melhores condições do que eu. 

Sem sequer olhar para o espelho, abri a torneira e mergulhei o rosto na pequena piscina de água fria que reservei em minhas mãos. A cabeça doía como nunca e eu estava com um perfume de tequila absurdo no corpo; lembrava de poucas coisas da noite anterior, mas sabia que valia cada Tylenol DC que eu engoliria hoje.

Ao me olhar no espelho, a realidade bateu: cabelos totalmente desarrumados, duros por causa do laquê passado antes da festa de ontem; olhos de panda devido ao rímel e ao lápis de olho preto (mega vagabundo comprado por um real); batom cereja deixando o lindo "efeito coringa". 

Pra deixar qualquer look de celebridade em reabilitação no chinelo.

Ah, nem me apresentei. Desculpe, o dia está sendo bem difícil. Pode me chamar de Alice Coelho. Carioca, 23 anos, desempregada. Moro com meu irmão Luís - já que nossos pais não nos aguentam mais - em um apartamento que ele herdou do nosso tio-avô. 

Decidi tomar um rápido banho para recuperar parte da minha dignidade. Lógico, Luís não veria nenhuma ali por mais arrumada que eu aparecesse na cozinha. Por que irmãos mais velhos são tão implicantes?

Quinze minutos depois, saí do quarto. Ele estava parado na porta, com uma expressão fingida de reprovação, estendendo uma xícara de café com leite e uma fatia de bolo de chocolate com cachaça, pequena relíquia que minha mãe encontrou em um mercado há alguns anos atrás e que nos viciou como se fosse uma pedra de crack. 

Não, nunca usamos crack. Mas ouvimos alguém entendido falar que basta experimentar uma vez para se viciar e isso descreve bem nossa relação com esse bolo. 

Peguei a comida e me joguei no sofá da sala. Não que evitemos comer à mesa, o problema é que ela está tão atafulhada de livros, bolsas, papéis, chicletes de validade duvidosa e até mesmo uma bermuda do Lu, que fica impraticável usá-la para as refeições.

Meu irmão sentou-se no braço do sofá e mostrou-me o celular. Minnie havia ligado umas 17 vezes.  

Ok, o nome dela não é de personagem da Disney. O nome verdadeiro é Roberta e ela é um porre. Contarei sobre ela a seguir.


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